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sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

O MENDIGO DOS OLHOS AZUIS


Você tem muito pouco a oferecer. Você é muito pobre. Tão pobre, que só tem dinheiro.

Você não tem casa para morar, não tem família, nem lar, onde possa estar feliz, em paz. Você não tem dinheiro que te faça melhor. Você não tem comida que te faça bem ao teu corpo. Você não tem alimento que sustente a tua alma.

Vou te contar uma história: Certa vez, conheci o fundo do poço. Fui viver em um abrigo, uma vaga, na verdade. Eram vários quartos pequenos, com quatro camas beliche e quatro armários muito pequenos em cada um. Oito pessoas em cada cômodo.

Lá, fui recebido por um casal iluminado que me acolheu. Éramos sete e um mendigo, em um dos quartos. Dois estavam lá de favor. Eu e o mendigo. Eu, temporariamente, pagaria quando pudesse. O mendigo, definitivamente, estava isento de pagamento.

O mendigo era um senhor magro, cabelos e barba, longos e brancos. Seus olhos chamavam a atenção, por serem azuis e penetrantes. Suas roupas eram amassadas, mas limpas. Suas unhas, no entanto, eram compridas e pretas.

Eu nada tinha. Somente uma mochila e umas poucas roupas. Eu me sentia menos que ele. Eu era menos que ele!

No primeiro dia, saí cedo para procurar emprego. Cheguei quase à noite, cansado e com muita fome. Eu não sabia o que fazer.

Quando o mendigo me viu, arregalou seus olhos azuis, penetrantes, como se estivesse lendo minha mente. Foi logo perguntando: "Você comeu hoje?". Parece que ele tinha profunda intimidade com a fome. Eu disse que não. Antes que eu pudesse explicar, ele virou as costas e saiu rapidamente.

Algumas horas depois, ele reapareceu com um saco nas mãos e me disse: "Trouxe comida para nós!". Eram sobras de um aniversário de um dia anterior. Aquela teria sido a melhor refeição da minha vida, porque não foi física. Fiquei muito emocionado e quase não consegui comer.

Foi assim, durante várias semanas. Ele sempre atencioso e preocupado comigo. Sempre dividindo tudo o que ganhava.

No começo, fiquei constrangido e me sentia humilhado. Mas, depois, estar com ele, compartilhar suas dádivas, se transformou em uma honra para mim. Sua presença tornou-se uma meditação. Cada gesto, cada palavra sua, era um aprendizado. Eu o ouvia como se ele fosse um mestre. E ele era.

Era também muito rico. Tinha muito para dar. O que tinha era tanto que não havia lugar físico, onde pudesse guardar. Ele não tinha nenhum apego. Por isso, era livre, feliz; tinha tudo. A sua situação não era motivo para tristeza, para lamento, para choro. Ao contrário de mim.

Aprendi com ele a estar só, com fome, sem amigo, sem família. Aprendi com ele a sorrir, mesmo assim. Aprendi com ele o que é o amor incondicional, porque eu o vi, o senti nas minhas veias. Aprendi com ele que a felicidade não tem objeto. Ela não pode ser comprada. Ela não tem regra, não tem lógica. Ela não pode ser definida.

O apego te faz miserável demais. Mais que um mendigo, mais que um ignorante.

A sua incapacidade de se doar, de amar, o faz muito pobre e infeliz. Que virtude pode ter alguém apegado, cheio de preconceitos?

O amor é a única virtude, a única riqueza que um homem pode ter na sua vida terrena.

Não falo dos teus bens materiais, nem da sua comida que poderias doar. Falo de outra riqueza, de outro bem, de outro tipo de alimento.

Para muitas pessoas, aquele senhor de cabelos e barbas brancas, poderia ser apenas um miserável, um pobre coitado, um sujo, repugnante, incapaz, ignorante. Sim, ele o é, tens razão. Mas, não mais do que você.

- Sergio Aranha –
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Fonte: Grupo Sírius – despertando o Cristo Interior